Meditações

VII

O general espartano Lisandro, quando perguntado sobre o que fazer por seus soldados, quando a força não mais lhes era favorável, assim responde a quem o acusa de lançar mão de truques e subterfúgios e não combater de peito aberto: “Quando a pele de leão não basta, está na hora de pôr uma pele de raposa sobre os ombros”. O significado é que, quando não se consegue vencer com força e coragem, então é preciso usar de astúcia.

VI

Um casal de águias, invariavelmente cria seus filhotes por cerca de um ano. O casal, na época de chocar os ovos e criar os filhotes, se reveza na tarefa de proteger e alimentar a cria no ninho que fica em um ponto íngreme onde a queda pode ser fatal. Durante o período de crescimento os filhotes comem muito. E o trabalho dos pais é dobrado, já que esses crescem numa velocidade alarmante. Quando as penugens dão lugar às penas, e o ciclo de crescimento chega ao estágio de briga no ninho, onde os filhotes já se estranham por comida. Os pais passam a empurrar os filhotes para o aprendizado e ensinam como alçar vôo e procurar a própria caça. Mas ainda não é um vôo completo. Apenas ensaio. Quando os filhotes conseguem mirar o abismo, a mãe simplesmente os empurra do ninho rumo ao precipício. Na queda o filhote só tem duas opções: bater asas e voar ou arrebentar-se no final do abismo. A mãe águia acompanha a queda do filhote, sem, porém, fazer nada, mas o acompanha mesmo assim, com olhos apreensivos e atentos. Mas dificilmente algum filhote de águia chega ao chão e desse dia em diante, alçando vôo e ganhando os céus, não volta mais ao ninho da mãe.


V

Um pianista tocava uma mesma canção por horas no solitário apartamento, quando por todas as partes um número infinito de fantasmas se espalhavam pelos cômodos, pelos cantos, por cima do piano. O pianista não ousava olha-los de frente e eles se multiplicavam ainda mais, atormentando-o, amedrontando-o, dominando-o. Quando o pianista, cansado de distrair-se e de fugir do que estava ao seu redor, querendo tomar consciência de si e do mundo, de repente, parou de tocar, olhou nos olhos do fantasma que estava sentado no piano e perguntou: “O que você quer de mim?” Dito isto, os fantasmas começaram a desaparecer um por um, e então, o pianista, pode tocar outras canções.


IV

Na China antiga, um eremita meio mágico vivia numa montanha profunda. Um belo dia, um velho amigo foi visitá-lo. Senrin, muito feliz por recebê-lo, ofereceu-lhe um jantar e um abrigo para a noite. Na manhã seguinte, antes da partida do amigo, quis ofertar-lhe um presente. Tomou de uma pedra e, com o dedo, converteu-a num bloco de ouro puro. O amigo não ficou satisfeito. Senrin apontou o dedo para uma rocha enorme, que também se transformou em ouro. O amigo, porém, continuava sem sorrir.


- Que queres, então? - indagou Senrin.

Respondeu-lhe o amigo:

- Corta esse dedo, quero-o.



III

Um dia morreu o guardião de um mosteiro Zen. Para descobrir quem seria a nova sentinela, o mestre convocou os discípulos e disse:
- O primeiro que conseguir resolver o problema que eu vou apresentar assumirá o posto.
Então numa mesa que estava no centro da sala colocou um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza. E disse apenas:
- Aqui está o problema!
Todos ficaram olhando a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer? Qual o enigma? De repente um dos discípulos saca da espada, olha para o mestre, dirigi-se para o centro da sala e... Zazzz! Com um só golpe destruiu tudo.
- Você é o novo guardião. Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Se for um problema, precisa ser eliminado.


II
Uma antiga lenda diz que quando Deus estava para criar o mundo, foi abordado por quatro anjos. O primeiro perguntou: Onde o está criando? O segundo: Com quais dimensões o está criando? O terceiro: Posso ajudar? O quarto, por fim, perguntou: Posso projetar e coordená-lo? O primeiro era geógrafo; o segundo, matemático; o terceiro autruísta e o quarto, administrador de empresas.


I
O Macaco Wu Kung possuía certos poderes mágicos, por isso, decidiu desafiar Deus, então pegou uma aposta final com o próprio Deus. Apostou que, com seus poderes mágicos, poderia ir até o fim do mundo, e o premio era o título de O Grande Sábio, igual ao céu, ou a submissão completa em caso de perder. Arremessou-se, pois, no ar, e viajou com a velocidade do relâmpago, através dos continentes, até chegar a uma montanha de cinco picos, que julgou deveria estar tão longe que nenhum mortal ainda ali pusera os pés. A fim de deixar uma prova de que havia chegado ao local, urinou no pé do pico central e, satisfeito com tal façanha, regressou e contou sua viagem a Deus. Abriu então Deus uma das mãos, e pediu-lhe que cheirasse a própria urina na base do dedo médio, e fê-lo compreender que, durante todo esse tempo, ele não havia sequer saído da palma da sua mão. Foi então que o Macaco adquiriu humildade e, depois de acorrentado a um rochedo durante quinhentos anos, foi libertado por um santo e juntou-se a ele em sua peregrinação pela terra.

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